Juventude rural e urbana de Pernambuco reunida para planejar incidência política diante da conjuntura reformista pautada pelo governo de Michel Temer (Foto: Vinícius Sobreira – Mirim Brasil)

A atual conjuntura de retirada de direitos provenientes das propostas reformistas do governo não eleito de Michel Temer na Constituição Brasileira, vem preocupando os cidadãos – sobretudo de classes populares – acerca do futuro da educação pública e da previdência social no país.

Em linhas gerais, a Reforma do Ensino Médio (Medida Provisória 746) retira do currículo as disciplinas de Sociologia, Filosofia, Artes, Educação Física e torna optativa a oferta da língua estrangeira para alunos do ensino público, mas não impede que as escolas privadas mantenham essas matérias na grade curricular.

A Reforma da Previdência (PEC 287) visa acabar com a aposentadoria por tempo de contribuição (30 anos para mulheres e 35 para homens) e aumentar para 49 anos ininterruptos, assim como igualar a idade mínima de todos os trabalhadores (homens, mulheres, índigenas, agricultores, servidores públicos, professores da educação fundamental) para 65 anos.

Nos últimos dias 10, 11 e 12 de março, cerca de 60 jovens da Região Metropolitana do Recife, Zona da Mata, Agreste e Sertão pernambucano estiveram reunidos – no Santuário das Comunidades – em Caruaru – para debater os impactos dessas reformas políticas no contexto de vida no campo e na cidade e planejar formas de incidência na política em 2017. O encontro foi articulado pelo Fórum das Juventudes de Pernambuco que – há 9 anos – se propõe a ser um espaço que agrega e estimula as diversidades de grupos juvenis à mobilização por direitos.

O educador popular, Denilson, facilita o debate sobre a Reforma do Ensino Médio (Foto: Comunicação – Etapas)

Para os educadores populares Denilson e Dagoberto Arantes – que facilitaram o debate no encontro – a intencionalidade das reformas do governo, é entregar as iniciativas sociais (educação, saúde, segurança e salários) às redes privadas, fortalecendo o vínculo com o capital internacional.

Denilson destacou que a não obrigatoriedade dos conteúdos curriculares não é nova. “Esta pauta vem da década 1990 quando a educação na América Latina foi pautada pelo Banco Mundial durante o governo Fernando Henrique Cardoso, entretanto, houve uma interrupção dessa pauta, sem, contudo, conseguir seu encerramento. Mesmo durante os governos que sucederam FHC ela continuou na pauta, em evidência. A proposta de plano denominado ‘Uma ponte para o futuro’ é o desenho desses projetos que estão em curso”, comenta.

Dagoberto comentou que os impactos na vida dos jovens de baixa renda começam a ser sentidos com o fechamento das escolas públicas. “ Uma das pautas mais perversas que estão por vir são as escolas de tempo integral, que deve tirar os/as filhos/as das/os trabalhadores/as das escolas. O que está pautado é a ‘ampliação’ das escolas de tempo integral, sem, contudo, discutir a qualidade desses espaços. Quem vai ficar em tempo integral em escolas quentes, sem acesso a esportes, sem arborização? ”, questiona.

O presidente da CUT-PE, Carlos Veras, esclarece dúvidas sobre as Reformas Trabalhista e da Previdência e impactos na vida dos brasileiros (Foto: Comunicação – Etapas)

O Presidente da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE), Carlos Veras – explanou sobre os impactos na vida dos brasileiros em caso de aprovação da Reforma Trabalhista e da Previdência.

Segundo ele, o aumento da idade mínima para 65 anos despreza a vivência de dupla ou tripla jornada de trabalho das mulheres – que recebem 30% a menos que o homem. Sobre a contribuição ininterrupta por 49 anos, ele comenta que o modelo reformista quer que o jovem comece a contribuir cada vez mais cedo para favorecer o capital. “O propósito é claro: privatizar a previdência pública para aumentar o lucro do capital”, comenta.

Carlos Veras também esclareceu dúvidas sobre as novas regras trabalhistas previstas se a reforma for aprovada:

Na Regra de Transição: Mulheres a partir de 45 anos de idade e homens a partir de 50 anos, tem que pagar pedágio de 50% do tempo que seria necessário para se aposentar pelas regras atuais. Entretanto, quando a lei for sancionada, é preciso contribuir imediatamente, senão sai da regra de transição.

No auxilio doença: os trabalhadores/as “seja o professor em função do uso do giz, policiais por alto risco de estresse, agricultores/es que têm alta exposição ao sol etc”, que em sua profissão, se adoecem, têm direito ao auxilio doença. Na nova proposta só terá o auxílio doença se provar ser incapaz de exercer qualquer profissão.

Na pensão por morte: O/a viúvo/a terá direito à pensão apenas de 50% do valor do salário, acrescido de 10% de cada dependente. Significa também que quando os dependentes completarem 21 anos reduz também em 10%.

Para ter acesso a cartilha sobre “Reforma da Previdência, Trabalhista e Dívida Públicaclique aqui.

A partir da análise conjuntural e da avaliação da atuação do FOJUPE em 2016, os jovens e as organizações de apoio (Fetape/Gajop/Etapas/Diaconia/Fase/Centro Sabiá) formaram grupos de trabalho por regiões de desenvolvimento e iniciou-se o planejamento das ações de Mobilização, Formação e Incidência Política nas quatro Regiões de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco para 2017.

Entre as articulações no âmbito estadual está um Ato em praça pública da Região Metropolitana do Recife para das visibilidade as pautas de lutas das diversidades juvenis em comemoração ao Dia Internacional das Juventudes, celebrado em 12 de agosto. 

 

A convite da Defensoria Pública da União do Recife, a Etapas participou do evento de inauguração da nova sede da DPU-Recife – localizada na Avenida Manoel Borba 649 – Boa Vista, que teve o objetivo de aproximar o órgão de assistência jurídica dos movimentos sociais, organizações, redes e fóruns da sociedade civil atuantes na luta por direitos humanos.

A Coordenadora do programa de Direito à Cidade da Etapas, Isabela Valença, ressalta que a aproximação do DPU – na atual conjuntura de perda de direitos – é importante para nortear a sociedade sobre as ações do órgão e dar suporte às classes populares mais vulneráveis à violência de Estado.

“A gente trabalha com uma população vulnerável às violações de direitos que não tem como pagar para ter um suporte profissional. A nossa expectativa é que o DPU crie calendários periódicos como os movimentos sociais e leve informações sobre a assessoria jurídica oferecida para dentro das comunidades”, ressalta.

 

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A fim de estimular a participação da sociedade na discussão e no controle das Políticas Públicas de Saúde no Estado de Pernambuco, as organizações parceiras – Etapas, Federação Ibura-Jordão (FIJ) e Action Aid – promoveram no mês de maio – o III Seminário de Saúde do Ibura e Jordão. A atividade – que faz parte do planejamento das organizações para fortalecer a luta comunitária por garantia de direitos- reuniu cerca de 100 pessoas no debate sobre a luta por melhorias no Serviço Público de Saúde.

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Gestores públicos e sociedade civil atentos às demandas dos moradores do Ibura / Foto: Comunicação Etapas

A mesa de debates foi composta pelo Secretário de Saúde Municipal, Jailson Correia; pela gerente do Distrito Sanitário VIII, Mônica Gueiros; pelos Coordenadores dos Conselhos Estadual e Municipal de Saúde, Julio Cesar e Oscar Correia; pelo coordenador da UPA Pediatra Zilda Arns(Ibura), Eduardo Brasileiro; pelas representantes dos Departamentos de Saúde e Mulher, Maria José e Claudia Freitas.

A organização do Seminário elegeu cinco líderes comunitários para iniciar os questionamentos aos gestores públicos sobre a precariedade nos serviços de prevenção, promoção e assistência à saúde do Ibura Jordao.

 

As políticas de atenção às mulheres para o controle da natalidade; prevenção e combate de doenças arboviróticas,  infectocontagiosas e sexualmente transmissíveis; a qualidade da infraestrutura, atendimento e serviços de farmácia nos Postos de Saúde da Família do Ibura, foram alguns assuntos abordados. A população reivindica a distribuição de preservativos e métodos contraceptivos femininos , a reabertura dos plantões médicos na maternidade Professor Arnaldo Marques; maior disseminação de informações e controle da Dengue, Chikunguya, Microcefalia, Hanseníase e HIV.

A maioria das demandas foram respondidas pelo secretário de saúde do Recife, que explanou alguns planos, metas e realizações no âmbito municipal. Para Jailson, a abertura do Hospital da Mulher é um “grande avanço” na política em atenção às mulheres. [Clique no link e saiba mais].

Para Eduardo Brasileiro, o Seminário mostra o potencial de articulação das lideranças comunitárias do Ibura. “Quando entrei na administração da UPA me falaram que a população do Ibura era muito organizada na luta por melhorias nas políticas públicas. Me sinto motivado, pois o papel de uma comunidade organizada é administrar junto comigo”, aclama.

 

 

Para trazer à tona uma reflexão sobre o direito à vida, não para evitar a morte, mas para exaltar as diversas características e personalidades dos jovens pernambucanos e incentivar a busca por condições de desenvolvimento pessoal, social e profissional – direitos garantidos pela Lei 12.852/2013 do Estatuto da Juventude – o Fórum das Juventudes de Pernambuco (FOJUPE) lança a campanha “Jovens Pelo Direito de Viver”.  A iniciativa visa multiplicar o conhecimento em cidadania dos cerca de 50 movimentos juvenis – rurais e urbanos – que compõem o Fórum, nas quatro Regiões de Desenvolvimento do Estado, durante o ano de 2016.

A multiplicação acontecerá através de intervenções urbanas e digitais, na perspectiva de encorajar a denúncia em casos de violações de direitos e de envolver outros grupos juvenis do Estado para unir esforços em prol da incidência política e garantia de direitos. As ações envolvem colagem de lambe-lambes, distribuição de adesivos e pintura em estêncil nos lares e locais públicos do Estado, assim como a disseminação de um vídeo nas redes sociais, que favorece a reflexão sobre a vida das juventudes e estimula a participação na Campanha.

Para a coordenadora do programa de Juventude da Etapas, Waneska Bonfim, o diferencial do projeto foi reunir as diversas demandas das juventudes [pastorais, indígenas, rurais e urbanas] numa única Campanha que traz elementos do “ser jovem” de maneira positiva. “A ideia da campanha não é só ser de denúncia aos homicídios dos jovens, mas de pensar no quanto a vida deles é influenciada de forma negativa. Os jovens estão muito próximos do sobreviver e não do viver com qualidade. O FOJUPE quer ressaltar a importância de garantir os direitos previstos no Estatuto da Juventude para que o jovem tenha condições de experimentar sua sexualidade, religiosidade, negritude e vivenciar os momentos culturais, profissionais, de esportes, lazer e estudos com qualidade”, explica.

A Campanha foi lançada no último Encontro de Avaliação e Planejamento do FOJUPE em fevereiro. Além de avaliar as participações nas Conferências Municipais, Estadual e Nacional de Juventude e planejar ações de incidência política para 2016, os jovens participaram de uma Oficina de Composição dos instrumentos de divulgação da Campanha.

A Campanha do FOJUPE conta com a colaboração das Organizações da Sociedade Civil (ETAPAS/ Diaconia/ Centro Sabiá/ GAJOP/Popoli in Art, FASE e FETAPE), em parceria com a Escola de Arte e Tecnologia – OI Kabum.

Confira a produção audiovisual:

Apoios: Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese) e Frères des Hommes.

Depoimentos:

Íris Maria – Juventude Sertaneja

“No Sertão do Araripe, percebo que temos um número grande de jovens, mas ainda poucas organizações que trabalham com juventude. Sendo assim, as políticas públicas acabam não chegando até os jovens rurais. Atualmente, muitos jovens do campo estão migrando para a cidade ou para os grandes centros – como São Paulo ou Mato Grosso – em busca de trabalho, e percebo que essa saída acontece porque nas comunidades não têm geração de renda e muito menos lazer. As políticas públicas não estão chegando às bases. Apesar de tantos meios de comunicação ainda vejo uma maior parte de nossa juventude desinformada.

Essa campanha vem para reafirmar os nossos direitos, facilitar o conhecimento do Estatuto da Juventude, e abrir os olhos de nossa juventude. Acredito que a mudança só acontece quando nos apropriamos do conhecimento, para assim sabermos exigir e cobrar de fato os nossos direitos.”

Maurílio Truká – Juventude Indígena

“A juventude indígena Truká, do município de Cabrobó (Sertão), é uma juventude participativa no processo de luta do nosso povo, porém ainda vejo muitos dos nossos jovens a percorrerem alguns caminhos negativos, que não deveriam. Muitas vezes esses caminhos são por falta de oportunidades, como: trabalho, renda e qualificação, estudos. Tudo isso causa uma desestrutura na vida de alguns dos nossos jovens, por isso, alguns fazem opções pelo mais fácil: drogas, álcool. Por um outro lado, vejo uma juventude ousada, comprometida, sonhadora, sempre em busca do melhor para a vida.”

Através da articulação do projeto Sistema de Vínculos Solidários – executado pela Etapas em parceria com a FIJ e apoio da ActionAid no território do Ibura-Jordão – jovens moradores de Três Carneiros participaram da segunda edição do curso “A Arte da Fotografia” ministrado pela fotógrafa voluntária Ana Caúla Cribari, e puderam expor suas fotografias para familiares, amigos, lideranças comunitárias, representantes públicos e alunos do 5º ano da Escola Municipal Severina Bernadete, na quarta-feira (21/10), no Clube de Mãe de Três Carneiros. A Exposição Fotográfica “Olhares Urbanos” revelou o olhar poético de oito adolescentes sobre as situações cotidianas da comunidade.

O resultado foram fotos sensíveis que imprimem a realidade, no preto e no branco, de uma comunidade construída em cima de barreiras, com um comércio fervilhante, trânsito de ônibus, carros, motos, gentes e animais por ruas estreitas e riqueza de detalhes nas fachadas das casas.

Ana Cribari conta que os alunos preferiam fotografar paisagens ou retratos, mas que incentivou a saída fotográfica pela comunidade para fazê-los enxergar as pessoas com humanidade. “Fico muito orgulhosa, porque eles conseguiram captar o que ensinei sobre regra dos três terços, moldura, iluminação e, principalmente, a contar histórias através da fotografia”, comentou.

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Alunos do curso de fotografia e do 5º ano da Escola Municipal Severina Bernadete conferiram a exposição no Clube de Mães de Três Carneiros / Foto: Comunicação Etapas

O coordenador do projeto, Pedro Ribeiro, ressalta a importância de promover atividades que incentivem a arte. “A gente tende a achar mais bonitos os cenários que passam na televisão, mas em meio a tantos problemas enfrentados pelos moradores do Ibura, os jovens captaram as belezas através dos gestos das pessoas”, comenta.

A líder comunitária, conhecida como Biuzinha, refletiu sobre a formação cidadão das pessoas que participam das atividades. Para ela, quando os jovens estão inseridos nos espaços de formação, eles compreendem a luta comunitária como forma de mobilização para melhorar os serviços públicos que afeta diretamente a qualidade de vida dos moradores. “Eles entendem que têm direitos, multiplicam o conhecimento e, assim, mudam a realidade da comunidade”, afirmou.

O aluno Carlos Gabriel (12) recebe seu certificado e elogios da fotógrafa Ana Caúla Cribari
O aluno Carlos Gabriel (12) recebeu seu certificado e elogios da fotógrafa Ana Caúla Cribari / Foto: Comunicação Etapas

A dona de casa, Isabel Silva, mãe do aluno Carlos Gabriel (12), se emocionou ao ver o reconhecimento do empenho do seu filho – que não faltou a nenhuma das sete aulas – e teve a foto elogiada pelo curador Francisco Cribari. “Eu o incentivo a estudar e estou muito orgulhosa por saber que ele tem futuro na fotografia. O próximo passo é tentar comprar uma câmera digital pra ele”, conta Isabel.

Ao final do evento, os alunos Carlos Gabriel, Luciana Lindalva, Camila Karolaine, Keture Pereira, Ana Vitória, Suzane Lima, Iasmim Ketlly e Emilly Silva receberam certificado de conclusão de curso e houve uma confraternização.

 

O Sistema de Vínculos Solidários tem parceria com a Escola Municipal Severina Bernadete, o Distrito Sanitário VI e Clube de mães de Três Carneiros. Para a realização da Exposição, os voluntários Peu Rabelo, Francisco Cribari e Victor Miranda envolveram-se na execução.

 

A atividade faz parte do esforço das organizações para estimular a participação social na construção de políticas públicas destinadas a população do Ibura

A Etapas e a Federação Ibura-Jordão (FIJ) aproveitam a campanha do Outubro Rosa (que visa estimular a participação da população no controle do câncer de mama), para promover o debate entre a sociedade civil e os gestores públicos de Pernambuco sobre projetos e políticas públicas direcionadas às mulheres do Ibura. O seminário acontece no próximo sábado (17/10), a partir das 9h, na Escola Municipal Carlúcio Castanho.

Cerca de 52% da população do Ibura é feminina. Esta maioria é desafiada a conviver com a insegurança e a violência, principalmente se relacionadas as questões de gênero, que permeiam os espaços públicos do território. O seminário também busca atingir o público masculino, visando dar visibilidade aos problemas enfrentados pela mulher e unir forças em prol da luta feminista.

Confira a programação:

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