Do lixo à área verde: ponto histórico de poluição em Três Carneiros vira jardim comunitário
Crianças do projeto “Mudando práticas, Assegurando Direitos” colocam as mãos na massa para construção do Jardim Comunitário
Com o objetivo de contribuir com a luta pela efetivação do direito à saúde e saneamento básico nas periferias da cidade do Recife, a Etapas incorporou ao plano de trabalho ações de sensibilização e mobilização de crianças, adolescentes, lideranças comunitárias, gestores públicos e famílias do Ibura em prol do Meio Ambiente. Neste mês de abril a culminância das ações resultou na transformação de um ponto histórico de acumulo de lixo na comunidade de Três Carneiros em uma área verde com jardim comunitário.
Segundo a liderança comunitária de Três Carneiros, Severina Veiga, a luta dos moradores é para que a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) não deixe ponto de confinamento de lixo no alto dos morros e faça a coleta regularmente.
“Devido grande parte da comunidade está situada em lugares íngremes e com muitas escadas, nem o caminhão do lixo, nem a coleta manual chega nas casas todos os dias e aí os moradores descartam o lixo nos pontos de confinamento deixados pela Emlurb”, relata.
Um dos lugares com acúmulo de lixo ficava no canteiro ao lado de um posto de saúde e do Clube de Mães, lugar onde acontecem atividades diárias com 20 crianças do projeto “Mudando Práticas Assegurando Direitos (MPAD)” (Etapas/Comdica).
A partir de reuniões com lideranças comunitária da Federação Ibura Jordão (FIJ), gestores públicos e com a EMLURB foi realizado um mapeamento dos pontos de acumulo de lixo, no qual a empresa se comprometeu a realocar o ponto de confinamento de lixo para a Avenida São Paulo e enviar triciclos para coletar o lixo no alto dos morros regularmente. Os moradores do entorno se comprometeram a monitorar e preservar o jardim comunitário. As crianças do MPAD incorporaram nas atividades o aguo da plantação.
Para o coordenador do programa de crianças e adolescentes da Etapas, Pedro Ribeiro, o impacto do jardim comunitário se dá na melhoria da convivência nos espaços públicos do entorno, além do afastamento das doenças infectocontagiosas.
Pobreza extrema aumenta 11% no último ano; economistas culpam trabalho informal
Levantamento foi baseado nos dados atualizados sobre renda e desigualdade, publicados nesta quarta-feira (11) pelo IBGE
O Banco Mundial considera que renda individual e diária de US$1,90 ou menos caracteriza pobreza extrema/ Ravena Rosa/Agência Brasil
O número de pessoas em situação de extrema pobreza no Brasil passou de 13,34 milhões, em 2016, para 14,83 milhões no ano passado. A informação, que revela um aumento de 11,2% no índice, foi levantada pela empresa LCA Consultores com base nos dados da Pesquisa de Rendimento divulgada na quarta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para chegar ao dado, a consultoria adotou a linha de corte do Banco Mundial, que estabelece a renda domiciliar por pessoa, por dia, de US$1,90 como limite para a pobreza extrema nos países em desenvolvimento.
Segundo especialistas, o aumento da pobreza extrema está relacionado, principalmente, ao aumento do trabalho informal. O estudo do IBGE analisa os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada em fevereiro deste ano, que mostrou que, em dezembro de 2017, os trabalhadores informais representavam 37,1% da população ocupada no país. De acordo com o IBGE, é a primeira vez na história que o número de trabalhadores sem carteira assinada superou o conjunto de empregados formais.
Em entrevista ao Valor Econômico, publicada nesta quinta-feira (12), o economista Cosmo Donato, da LCA Consultora, ressaltou o fechamento de postos com carteira assinada. “No lugar de empregos [com garantias trabalhistas e pisos salariais], o mercado de trabalho gerou ocupações informais, de baixa remuneração e ganho instável ao longo do tempo”, destacou.
Segundo Adriana Marcolino, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o aumento de vagas sem carteira assinada, junto ao não aumento real do salário mínimo, tiveram um grande impacto no aumento da desigualdade social.
“No mercado de trabalho estamos com altas taxas de desemprego, e o emprego que está sendo gerado é de baixa qualidade, é informal, instável, com salários menores. Esses elementos todos compõem o quadro de aumento na desigualdade”, destacou.
De acordo com os dados do IBGE, em 2017, o grupo formado por 1% da população mais rica do país ganhou 36,1 vezes mais do que a metade mais dos pobres, tendo um rendimento médio mensal de R$27.213. A pesquisa mostra também que a parcela dos 5% mais pobres da população brasileira teve um rendimento médio de R$40 por mês em 2017, o que representa uma queda de 18% em relação ao ano anterior (R$49). Já para a população que compõe o 1% mais rico do país, o rendimento encolheu em apenas 2,3%.
A diminuição da renda advinda do trabalho formal também foi um dos motivos levantados pelo coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, para essa desigualdade, durante a divulgação do suplemento especial da Pnad Contínua. “A qualidade do emprego foi baixa em 2017, com a redução da taxa de desocupação por meio do trabalho informal”, disse.
No entanto, segundo Marcolino, a pesquisa não reflete a real desigualdade no país, uma vez que o IBGE tem um limite de dados captados, se utilizando apenas das informações de renda gerada por emprego, Previdência, pensão, aluguel ou políticas públicas, como o programa Bolsa Família.
“O problema dessa estatística é que ela não pega os super ricos do Brasil, que tem investimentos na bolsa, isso só seria captado se o IBGE fosse articulado com o imposto de renda. Então, na verdade, a desigualdade no Brasil é muito maior do que a gente falava” afirmou.
Bolsa Família
A redução no número de beneficiários do programa Bolsa Família no último ano, pelo governo de Michel Temer (MDB), também foi apontada como um dos principais motivos para o aumento da desigualdade social. O IBGE apontou que pelo menos 326 mil domicílios deixaram de receber a renda do programa no ano passado.
A região Nordeste foi a mais impactada pelos cortes: ao todo, 131 mil domicílios nordestinos deixaram de contar com a renda extra. Paralelamente, a região também sofreu com o maior aumento de desigualdade, tendo seu índice de Gini, principal medida da desigualdade da renda, elevado de 0,555 para 0,567 entre 2016 e 2017. Para Marcolino, ambas as estatísticas estão relacionadas.
“Na região Nordeste, o salário mínimo, do Bolsa Família e da formalização do trabalho estavam tendo um impacto importante para reduzir as desigualdades. Com os cortes no Bolsa Família, as pessoas em pobreza extrema, que agora vivem simplesmente de uma pequena renda de trabalho, somente o fato do desemprego aumentar e ela ser demitida, já a coloca em uma situação de vulnerabilidade muito grande”, afirmou.
Edição: Diego Sartorato
Juventudes de Pernambuco planejam ações de incidência política em 2018
Avanço do conservadorismo; fundamentalismo religioso; a incidência do HIV/AIDS influenciando no aumento da morte entre jovens; aumento da exploração sexual de adolescentes com a chegada das obras de infraestrutura; falta de políticas para juventudes do campo; desafios de manter a juventude organizada e empoderada; importância de pautar a luta das juventudes indígenas que sofrem com imposição de um fenótipo que não é necessariamente dos indígenas do Norte; as consequências do Porto de Suape, e outras obras que chegam deslocando comunidades na zona da mata, foram temas debatidos no Encontro Anual do Fórum de Juventudes de Pernambuco (FOJUPE) – que aconteceu de 23 a 25 de março, em Caruaru e reuniu jovens feministas, indígenas, estudantes, quilombolas, gays, travestis, negras(os), lésbicas, camponesas(es), antiproibicionistas se reuniram para planejar incidência política no estado de Pernambuco.
Como metodologia do FOJUPE, a mesa de debates escolhida pelos jovens foi formada pelo educador e coordenadordo Centro Sabiá, Alexandre Pires, pela educadora e ativista da Rede de Mulheres Negras, Mônica Oliveira (FASE-PE), e pela assessora do programa de Direito das Mulheres da ActionAid, Jessica Barbosa.
As negociações para privatizar o Aquífero Guarani (segunda maior reserva de água doce do mundo que se estende pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) foram trazidas por Alexandre, que ressalta ser “mais um dos retrocessos do governo Temer” – a discussão com transnacionais, como a Coca-Cola e a Nestlé para mudar a legislação e garantir aos conglomerados o direito exclusivo ao aquífero e à venda da água. “O vale do São Francisco em 2015, depois de seis anos de seca, aumentou em 50% a produção de frutas para exportação, enquanto comunidades que estão a 5km do São Francisco não têm uma gota de água. Estamos falando de um processo mais amplo, de retirada de direitos fundamentais”, alerta.
Para Mônica Oliveira, o contexto político do Brasil é de democracia impedida. “Precisamos localizar essa defesa da democracia no local onde estamos, porque a repressão avança nas ruas, nas redes sociais, inúmeros sujeitos políticos passam a expressar de maneira mais explicita seus machismos, racismos, lgbtfobia, o que tem fortalecido as violências”, abrange. O aumento de números de estupros, de assassinatos de mulheres transexuais, o extermínio da juventude negra, a política de drogas que acirra a violência, elimina ou encarcera os pobres e especialmente os/as jovens negros. A velocidade do desmonte de políticas como redução do bolsa família e revisão da política de cotas, também foram trazidas por Mônica.
“Essa quebra das políticas estudantis também são muito sérias, pois são elas que garantem a permanência dos estudantes de baixa renda nas universidade. O tempo todo a gente ouve que é a juventude negra é a mais atingida com o desemprego e perda dos direitos trabalhistas, isto é porque já somos maioria no mercado informal e isso vai ficar pior com aumento do subemprego. O país tá sendo vendido aceleradamente! Vendeu o pré sal e agora a água e o petróleo. E isso não é uma questão do rural, mas de todo mundo. Por outro lado nosso nome é resistência”, avalia.
As explanações de Jessica trouxeram à tona o projeto de dominação da política de direita no Brasil. “Antes o que ‘pegava’ era falar da corrupção, agora o inimigo é a violência, a direita está colando no discurso de Bolsonaro, e já existe um inimigo público que é a política de drogas. Se tivermos eleições (porque há uma ideia de que o Rio de Janeiro é um laboratório para uma intervenção em todo Brasil), é muito louco que Bolsonaro esteja crescendo em cima da juventude”, analisa.
Para Jessica, alguns dos desafios deste ano eleitoral são: Construir plataformas comuns a partir do lugar que queremos chegar. “Essa diversidade talvez seja uma das grandes riquezas do Fojupe”, Voltar para as bases/territórios e trazer as juventudes para esse projeto antirracista, anticapitalista e consolidar nossa autonomia.
As três grandes ações do FOJUPE planejadas para 2018 são: a incidência política nas ruas do Recife com o segundo ano do Ato “Agosto das Juventudes“, a contribuição no Encontro Nacional de Agroecologia (em Belo Horizonte) e ampliação da divulgação da lei federal 12.852/2013 do Estatuto da Juventude com a Campanha “Jovens Pelo Direito de Viver” nos territórios de Pernambuco e mídias digitais.