No Ibura, crianças receberam oficinas de Mídia e Direitos Humanos, Enfrentamento à Violência Comunitária, Biblioteca Comunitária e Direito à Cidade

Com o objetivo de influir na conduta de cidadãs e cidadãos de Peixinhos, Ibura, Rosa Selvagem e do Canal do Arruda, de modo a direcioná-los a tomar parte em questões locais de interesse coletivo e incidir junto à própria comunidade e ao poder público na construção de um ambiente seguro e saudável, principalmente para mulheres, crianças e jovens– o projeto Ciranda vem promovendo oficinas temáticas com famílias das quatro comunidades na perspectiva de promover o bem viver para a primeira infância.

As atividades – facilitadas pelas organizações parceiras na articulação do Ciranda (Etapas, ActionAid, Mirim Brasil, Shine a Light | Favela News e Centro de Cultura Luiz Freire) buscam manter os princípios de reconhecimento, autonomia e apropriação de processos e ferramentas de estudo e trabalho. São oficinas sobre Direito à Cidade; Biblioteca Comunitária; Enfrentamento à Violência Comunitária e Mídia e Direitos Humanos.

 
Com metodologia participativa e a partir de um mapeamento coletivo, a coordenadora do programa de Direitos à Cidade da Etapas, Isabela Valença, trabalhou para uma reflexão sobre os direitos garantidos e violados em cada comunidade e discutiu sobre a importância da união para alcançar os direitos. “A ausência de direitos nas comunidades que o Ciranda atua está muito ligada ao acumulo de lixo, canais entupidos, médicos insuficientes, violência e as demandas da população são pedidos de creches, escolas e diminuição da violência”, ressalta.

No Ibura, as oficinas envolveram rodas de leitura de livros e jornais e trabalhos com pintura com crianças e famílias da comunidade da Vila 27 de Abril, com participantes do projeto “Mais Proteção, Menos Violência” (Etapas/KNH –Alemanha).

Cristiano Ferreira, educador do espaço– que fica no Conselho de Moradores da Vila 27 de Abril –avaliou a atividade como positiva.

“Tentar garantir um nível de qualificação na primeira infância faz com que as crianças cheguem na segunda infância com um nível de criticidade e de saúde emocional positivo”, afirma.

Encaminhamentos:
As oficinas irão rodas as comunidades durante dois anos.

A Etapas assume em 2017 a coordenação do Fórum de Direitos da Criança e do Adolescente do Recife– junto com a Escola Pernambucana de Circo e Visão Mundial. As três organizações representam 60 Organizações da Sociedade Civil da capital pernambucana que trabalham com direitos das crianças e adolescentes, tanto no Fórum Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente quanto nos Conselhos municipal e estadual de direitos das crianças e adolescentes.

O papel da Etapas é estimular a participação das crianças nos espaços para que possam falar por elas e não ter a fala levada pelo adulto.

Lutas Atuais:

O Fórum está na luta para lançamento do edital do fundo municipal do direito da criança e do adolescente – o recurso está na conta, mas a prefeitura precisa lançar um decreto regulamentando o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC) na cidade do Recife.

Além disso, o Fórum se articula para análise dos planos municipais:

– Enfrentamento à violência sexual
– Erradicação do trabalho infantil
– Situação de rua

Agenda do Fórum Municipal:

Os encontros acontecem toda penúltima quinta-feira do mês às 8h30 – na sede da Etapas

Com o objetivo de dar continuidade as discussões sobre os cuidados com o Meio Ambiente nos espaços de participação no território do Ibura, a Etapas e Federação Ibura e Jordão (FIJ) realizaram, no sábado (15/7), o II Seminário de Meio Ambiente, na Escola Técnica Advogado José David Gil Rodrigues – que pautou as lutas da população para garantir políticas de saneamento básico eficientes na periferia.

A mesa debatedora foi composta por Alexandre Ramos – Representante da Secretaria de Meio Ambiente do Recife; Gilca – Representante da Codecir; Edney – Gerente do Prezeis na URB; Sebastiana – Representante de Meio Ambiente da FIJ; Augusto Semente – Representante do Conselho Municipal de Meio Ambiente – Conama/PE; Isabela Valença Representante da Etapas; Severina Veiga – Presidente da FIJ.

Dentre os problemas trazidos pelos moradores: a falta de saneamento, a contenção de encostas, a limpeza dos canais e a educação para com o descarte correto do lixo pautaram o seminário.

Cobranças da FIJ:

O departamento de Meio Ambiente da FIJ sugeriu que as escolas do Ibura aderissem ao programa de educação ambiental, pois os diretores das escolas precisam solicitar o programa à Prefeitura.

A FIJ planeja fazer uma incidência junto a Prefeitura do Recife para os programas de educação ambiental chegarem ao Ibura, pois n a análise dos moradores, a gestão municipal concentra os projetos para a Zona Norte.

Na avaliação da coordenadora do programa de Direito à Cidade da Etapas, Isabela Valença, o seminário avançou na sensibilização da população para com a responsabilidade partilhada para ter um meio ambiente saudável.

Via Inesc: http://www.inesc.org.br/artigos/o-desmonte-do-sistema-de-protecao-social-pelo-governo-temer

Artigo de Grazielle David, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

A crise econômica de 2008 foi utilizada como justificativa para a adoção de medidas de austeridade na Europa. Os resultados foram catastróficos, especialmente em países como Grécia e Espanha, tendo ocorrido inclusive um reconhecimento do Fundo Monetário Internacional (FMI), por meio de estudos empíricos, de que cortes orçamentários durante recessões econômicas têm a tendência de ampliar os déficits fiscais e prolongar a recessão, ampliando os níveis de desemprego e desacelerando a recuperação econômica.

O Brasil tem se destacado pelo volume, intensidade e perversidade das medidas de austeridade adotadas. O governo Temer que assumiu em 2016, após destituição da presidente democraticamente eleita, tem avançado um pacote de maldades contra o povo brasileiro em passos largos. É importante destacar que: tanto o presidente quanto seus ministros estão profundamente envolvidos nas denúncias de corrupção em andamento, o país vive um cenário de crise institucional e política, e as propostas do governo nunca foram submetidas ao voto popular.

Entre as mais perversas medidas, o governo Temer apresentou e aprovou no Congresso Nacional, em 2016, uma proposta de Emenda à Constituição para instituir um “novo” regime fiscal, o qual determina que as despesas primárias, onde estão todos os gastos sociais, a partir de 2017, terão um teto: corresponderão ao valor pago em 2016 reajustado apenas pela inflação. Na prática, isso representará um congelamento dos gastos sociais por 20 anos, ou ainda pior, como a população crescerá em 9% e dobrará sua população idosa ao longo dos 20 anos, na realidade as despesas sociais per capita serão reduzidas. É ainda importante destacar que existe no país uma normativa que permite contingenciamentos orçamentários para atender a meta de superávit primário, de acordo com a Lei de Diretrizes Orçamentária. Se a meta for muito restritiva, os gastos sociais não apenas estarão congelados, como serão inferiores em comparação com o ano anterior. Ampliando a análise, quando o país voltar a crescer, toda arrecadação a mais do país não poderá ser utilizada nos gastos sociais para ampliar direitos, devido ao teto das despesas primárias, somente poderá ser utilizada nas despesas financeiras, para pagar juros e dívida.

Medidas de controle de despesas primárias estão sendo adotadas pelo mundo; porém, o caso brasileiro é único: I. Foi determinado por alteração constitucional; II. Por um o prazo excessivo de 20 anos o que inviabiliza a adoção de outra política fiscal aos futuros governos eleitos democraticamente; III. Com impossibilidade de crescimento real dos gastos sociais ao limitá-los à correção inflacionária, ao invés da variação de médio prazo do PIB como foi feito em muitos países europeus; IV. Desconsiderando qualquer necessidade social que por si só viria a exigir maiores investimentos sociais. Por exemplo, somente o envelhecimento populacional demandaria um acréscimo de 37% nas despesas com saúde.

Em perspectiva, se essa Emenda tivesse sido aprovada desde 2013, o orçamento da saúde em 2015 teria sido quase a metade do que foi de fato, R$ 55 bilhões ao invés de R$ 100 bilhões. Para os próximos 20 anos, a previsão é de redução de 25% em uma política pública que já é historicamente seriamente subfinanciada.

Dessa forma, a Emenda Constitucional n.95/2017, previamente conhecida como PEC 241 e depois PEC 55, é inteiramente incompatível com as obrigações de direitos humanos, conforme declarou o relator especial da ONU para extrema pobreza e direitos humanos, Philip Alston, para quem a emenda afetará de forma mais intensa os brasileiros mais pobres e mais vulneráveis, além de ampliar as desigualdades numa sociedade já bastante desigual.

O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas (ONU) já emitiu direções específicas que devem ser observadas pelos países parte do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais quando esses adotarem medidas em resposta a crises econômicas. Para estarem de acordo com o Pacto, as medidas fiscais devem: ser temporárias; estritamente necessárias e proporcionais; não discriminatórias; levar em consideração possíveis medidas alternativas, inclusive medidas tributárias; identificar e proteger o conteúdo mínimo e central dos direitos humanos; e serem adotadas somente após cuidadosa análise com genuína participação social no processo de tomada de decisão, especialmente dos grupos e indivíduos afetados.

Com a EC 95, o governo Temer falhou em considerar todos esses critérios. A Emenda não é temporária ao se estender por 20 anos e para além do período de crise econômica. O teto aos gastos sociais afetará desproporcionalmente os mais vulneráveis, como as mulheres e crianças negras pobres, que são justamente os que mais dependem dos serviços públicos, como saúde e educação. Medidas alternativas não foram analisadas, especialmente as que poderiam melhorar e ampliar as receitas de forma mais equitativa. Algumas possibilidades seriam: I. Combater a evasão fiscal que representaria um acréscimo de 27% do valor arrecadado, o que em 2015 correspondeu a R$ 500 bilhões; II. Ampliar a contribuição dos super ricos com a revogação da não tributação dos lucros e dividendos no imposto de renda, o que em 2015 teria correspondido a R$ 43 bilhões. Com essas medidas poderiam ter sido evitados cortes drásticos em gastos sociais. Por fim, o governo e diversos congressistas não realizaram análises sobre os efeitos das medidas, nem permitiram participação social adequada, ao apressar a aprovação da Emenda e inviabilizar a realização de Audiências Públicas já previamente aprovadas.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ao considerar todos esses elementos apresentados em audiência pública, orientou o governo brasileiro a respeitar os princípios de progressividade na realização dos direitos humanos e de não regressão social, em conformidade com o Protocolo de São Salvador, que o Brasil ratificou em 1996. De acordo com esse documento, os países signatários são proibidos de adotar medidas políticas e legais sem adequada justificativa que piorem a situação de gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais pela população.

Em avaliação pelo Inesc do orçamento para 2017 do Brasil é possível observar os primeiros indícios de desrespeito tanto das orientações da ONU quanto da CIDH, o que implicará em afronta aos direitos sociais das brasileiras e dos brasileiros em decorrência da austera EC 95. De 2016 para 2017 ocorreu um crescimento de 17,20% dos recursos públicos para despesas financeiras. Por outro lado, as despesas primárias sofreram uma redução de 14,2% na participação do bolo do Orçamento da União.

Os dados orçamentários evidenciam que são as funções e programas orçamentários relacionados com as populações em maior que mais perderão. Como exemplo, a função “Direitos de Cidadania” foi a que teve maior perda orçamentária. Nominalmente, essa função saiu de R$ 2,4 bilhões em 2016 para R$ 1,6 bilhões em 2017, um corte de 47%. Dentro dessa função, o programa mais atingido foi o de “Políticas para as Mulheres: Enfrentamento à Violência e Autonomia” que teve uma redução de 52%. É esse Programa que garante, por exemplo, o atendimento às mulheres em situação de violência. Essa ação orçamentária reduziu R$ 5,5 milhões no seu valor em 2017. Em contrapartida, para os juros, em 2016, foram pagos com serviço da dívida interna e externa R$ 381 bilhões, e em 2017 a previsão é de R$ 557 bilhões, o que representa um crescimento de 46%.

Ou seja, enquanto a fatia das despesas financeiras cresceu de 2016 para 2017, a das despesas primárias reduziu, provando que a lógica da EC 95 determina recursos cada vez mais protegidos para o financismo e cada vez mais limitados para os direitos humanos. O que afronta os princípios de não regressão social, não discriminação e de uso máximo de recursos disponíveis para a realização progressiva de direitos humanos.

Movimento de bairros na luta pela habitação ocupa Conde da Boa Vista, na década de 80 (Foto: Arquivo Etapas)

Recife é uma cidade cujo histórico de ocupação se dá pelo fenômeno do êxodo rural. As pessoas migraram do interior para a capital pernambucana correndo da seca ou em busca de melhores condições de vida na cidade.

As primeiras associações de bairros surgem entre os anos 40 e 50 para resistir as expulsões frequentes naquele período, tendo sido iniciadas pelos bairros de Afogados e Mustardinha e posteriormente se ampliado para outros locais da cidade. Além da resistência no processo, elas se expressam como movimento de reivindicação por serviços de infraestrutura e equipamentos coletivos (água, luz, esgoto, transporte) e fazem coro nos movimentos de resistência contra à política estadual de erradicação de mocambos do governo de Agamenon Magalhães.

A ampliação das associações de bairros, nos anos 60, necessidade e expressão da luta dos moradores, ganha espaço na política municipal de participação social nos governos de Pelópidas Silveira e Miguel Arraes, tendo como marco a criação da primeira Federação das Associações de Bairros do Estado de Pernambuco.

Com o golpe militar de 64 o processo de democratização é interrompido, mas no período da ditadura – com o apoio da Igreja Católica – as organizações comunitárias se multiplicam. O Movimento de Bairros se reorganiza e enfrenta o regime autoritário e de exclusão social.

A Etapas é fundada em 1982, como uma entidade de assessoria técnico-pedagógica ao Movimento Popular, especificamente, ao Movimento de Bairros da Região Metropolitana do Recife.

A partir da linha de trabalho voltada para estudos, pesquisas e comunicação, a Etapas produziu publicações que deram visibilidade das organizações de moradores na cena pública; no conhecimento e na articulação das lutas das diversas entidades das RMR; e contribuiu com informações para a mobilização dos segmentos populares para a participação em ações públicas, a exemplo da implementação de programas de governo como o Prefeitura nos Bairros de 1985.

Após 35 anos, a Etapas continua investindo na formação política de cidadãos, na perspectiva que promovam tanto mudanças efetivas no âmbito local, como incidência articulada na cidade do Recife. Temos no território do Ibura-Jordão uma das expressões da nossa atuação integrada e programática com os segmentos sociais em situação de vulnerabilidade. Somos parceiros da Federação de Moradores do Ibura-Jordão – FIJ (entidade que agrega 52 organizações, associações e conselhos moradores) – onde articulamos ações que fortaleçam a cidadania e o debate público.

Veja o que a líder comunitária de Três Carneiros (Ibura), Severina da Veiga (Biuzinha), tem a dizer:

Facilitar o acesso da população socialmente excluída aos serviços públicos de saúde e promover atividades lúdicas e educativas para crianças e famílias residentes no Ibura, são os objetivos das Feiras de Serviços Comunitários que acontecem periodicamente – há 10 anos – através da articulação Etapas, ActionAid e Federação Ibura e Jordão – em 11 comunidades do território.

Nos dias 13, 20 e 24 de maio, em homenagem ao mês das mães, as atividades realizadas em Três Carneiros, Pantanal e UR-12 buscaram favorecer a participação e o empoderamento de mulheres das comunidades.

Mulheres recebem tratamentos estéticos no Ibura (Foto: Vínculos Solidários – Etapas)

Com a junção da solidariedade de gestores públicos, comerciantes locais, lideranças comunitárias e voluntários, a Feira de Serviços pôde oferecer exames de mamografia, teste de HIV, sífilis, hepatite B, aferição de pressão e glicose, tratamentos estéticos (com corte de cabelo e escova), Roda de Diálogo sobre Geração de Renda e Organização Financeira e Oficina de Empreendedorismo, com produção de sabão através da reutilização do óleo de cozinha e produção de bolsas com tinta óleo.

No espaço criança, além de brincadeiras na cama elástica e piscina de bolas, as crianças e adolescentes puderam confeccionar os próprios presentes para o Dia das Mães, na Oficina de Produção de Objetos com Material Reciclável. As crianças também receberam Oficinas de Dança, Teatro e Artes Circenses.

A drag queen Elvira Terremoto garantiu a diversão de adultos e crianças com gincanas, quiz e distribuição de kits para as 200 mães em Três Carneiros.

Apoios:
Escola Municipal Severina Bernadete; Distrito Sanitário VIII; Instituto Embeleze; Associação de Moradores do Pantanal; Escola José Múcio Monteiro; Centro Cultura da UR-10; Clube de Mães de Três Carneiros; União de Moradores de Três Carneiros; Associação de Moradores da UR-12