Por Juliana Ribeiro (Etapas)

“Conhecimento é cuidado” afirma a psicóloga e professora Jesus Moura. Ela continua: “O saber, o acessar, o conhecer as coisas, fazem as pessoas se tornarem humanizadas. Cuidar da saúde mental é conhecer: o que provoca doença mental em mim e no outro? O que provoca dor e sofrimento em mim e no outro?”

Segundo a professora, a partir do momento que o indivíduo compreende que aquilo que ele sente é porque as pessoas estão o descriminando, ele tem uma forma de reagir. Então, ele pode se cuidar. Mas, se o indivíduo não sabe e acha que a descriminação é culpa dele, ele vai continuar doente.

“O conhecimento é importante para saber se defender e saber evitar de fazer alguém sofrer”, conclui Jesus.

Seminário reúne rede de profissionais da saúde, educação e assistência para pensar na promoção de saúde mental para adolescentes e jovens (Foto: Juliana Ribeiro- Etapas)

A partir da Agenda Cidade Unicef, a Etapas realizou o seminário “Promoção de saúde mental de adolescentes e jovens: Interseccionalidades do Cuidado”, nesta terça-feira (30/4), no Compaz Professor Paulo Freire, para profissionais da rede da Educação, Saúde e Assistência Social que atuam com adolescentes e jovens no Ibura.

Psicóloga e Professora, Jesus Moura (Foto: Juliana Ribeiro – Etapas)

A formação, que teve como facilitadora a psicóloga Jesus Moura, fomentou o conhecimento e estimulou a sensibilidade sobre a promoção em saúde mental de adolescentes e jovens a partir da interseccionalidade do cuidado.

O que é interseccionalidade?

Segundo Kimberlé Crenshaw, a interseccionalidade “visa explicar a inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo e cisheteropatriarcado, bem como as articulações decorrentes daí, que imbricadas repetidas vezes, colocam as mulheres negras mais expostas e vulneráveis aos trânsitos das estruturas”.

A sensibilização no seminário passou pela definição de racismo estrutural, dinâmica de auto identificação-autocuidado, reflexão sobre raça e classe social, definição de gênero, dinâmica de preconceitos através de falas pejorativas.

Vídeo: Entenda o que é RACISMO ESTRUTURAL! – Canal Preto
https://www.youtube.com/watch?v=lryL8ZAMq-E

Para saber:

Sexo Biológico tem a ver genitálias/ cromossomos

Gênero é a maneira como a pessoa se sente e se percebe

Orientação Sexual é a atração que se sente por outros indivíduos

Cisgenero: a pessoa se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento

Transgênero: a pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento

Travesti: identidade de gênero feminina

Como isso implica na saúde mental de adolescentes e jovens?

A psicóloga Renata Farias reflete que na interseccionalidade existem formas diferentes de opressões e privilégios na vida de adolescentes e jovens e isso vai ditar as experiências.

“Gênero, classe e raça pode atravessar o acesso à educação, a oportunidade de emprego, a descriminação (bullying), a saúde mental”, afirma Renata.

Ela diz que “na perspectiva do acesso à educação, podem existir obstáculos financeiros. Na descriminação pode existir a questão do bullying (a depender da maneira como a escola organiza, puna ou cuide dessas questões). Quando não consegue acessar um emprego por ser mulher e por ser negra. No acesso à saúde mental, tem às questões das barreiras e estigmas, que muitas vezes as travestis e pessoas transgênero enfrentam”.

Para Jesus, as pessoas precisam se apropriar de cada um desses elementos que são os marcadores de vulnerabilidades sociais: raça, classe, gênero e ter uma ação política dentro da sociedade.

Equipe Etapas, Jesus Moura e alunas do curso de psicologia da Fafire, ocupando o Compaz Paulo Freire/ Ibura com a pauta da saúde mental (Foto: Mariana – Unicef)

O seminário faz parte da parceria Unicef e Etapas, que tem atuações sistemáticas no Ibura, através da Agenda Cidade Unicef, na qual a Etapas assume a função de implementadora dos eixos de Engajamento de Adolescentes, Inclusão Sócio Produtiva e Saúde Mental.

A Etapas vem realizando ações de promoção em saúde mental de crianças adolescente, jovens, mulheres e cidadãos do Ibura. Seja enfrentando violência de gênero, racismo, racismo ambiental. Com formação política, incentivando a prática do brincar, com rodas de cuidado, fortalecendo a cultura, esporte, lazer e pontos de cuidado como praças e Unidades Básicas de Saúde.

Com cinco anos valorizando a articulação de gestores públicos, lideranças comunitárias e estudiosos do tema, a Etapas busca fortalecer a rede de proteção e enfrentamento às violências doméstica e comunitária contra crianças e adolescentes no Ibura

O Encontro aconteceu dia 13 de dezembro, no Hotel Jangadeiro – em Boa Viagem

Com o objetivo de dar continuidade às formações sobre direitos das crianças e adolescentes para sociedade civil e fortalecer a luta pelo enfrentamento às violências doméstica e comunitária contra crianças e adolescentes, a Etapas realizou mais uma edição do Encontro Para Detentores de Deveres, no âmbito do novo projeto de parceria com KNH Alemanha “Nenhum Direito a Menos, Mas Todos os Direitos: crianças e adolescentes enfrentam as violências, multiplicam conhecimentos e incidem nas políticas públicas”.

O evento aconteceu na última segunda-feira (13/12), no Hotel Jangadeiro (Boa Viagem), reunindo cerca de 30 pessoas, entre gestores públicos da saúde, educação, assistência social, representantes de Organizações Não Governamentais, adolescentes do projeto, líderes comunitários do Ibura e estudiosos do tema.

Para Neide Silva, Assessora de Programas e Projetos da Etapas, esse Encontro vem proporcionar com que os gestores públicos, as liderança comunitárias percebam o que podem fazer a partir do seu lugar de atuação para proteger e enfrentar as violência praticadas contra crianças e adolescentes de forma articulada e proativa.

O evento contou com a exposição de José Ricardo de Oliveira (Consultor da Área da Infância e Adolescência) que trouxe ao debate questões sobre a superação do adultocentrismo (que é quando determinamos socialmente que as crianças têm menos direitos, menos conhecimento e menos espaço do que os adultos), escuta qualificada e autoproteção proteção de crianças e adolescentes.

Mesa de debates com gestores públicos da saúde, educação e assistência, representantes de ONGs e estudiosos do tema

No momento do debate, o público trouxe à tona algumas expressões da violência comunitária no território do Ibura, como violência policial, precariedade dos espaços de lazer, falta de biblioteca nas comunidades, falta de atividades esportivas, culturais e de meio ambiente. Superlotação das escolas públicas devido à falta de emprego, falta de integralidade e efetividade das políticas públicas.

Na análise de Eduardo Paysan, presidente do COMDICA-PE, existe uma transferência de problemas nos serviços públicos, “parece que a criança é uma batata quente que a gente quer se livrar”. Ele conclui “se a gente fala de garantia de direitos, a gente fala de sentar assim, de maneira circular, e ver o que cada um pode fazer do seu lugar, de maneira intersetorial”.

Emerson, Alicia e Vinicius, respectivamente

Os adolescentes do projeto “Nenhum Direito a Menos, Mas Todos os Direitos” (Etapas/KNH) também foram expositores no Encontro Para Detentores de Deveres. Os estudantes Alícia, Vinícius e Emerson falaram sobre como a pandemia está afetando a vida deles e suas expectativas para os próximos cinco anos do projeto.

“A minha expectativa com o projeto é que tenha mais debates com a nossa participação. Que a gente continue aprendendo sobre as violências para saber como se defender. Queremos fazer intercâmbio de experiência com projetos de outras ONGs”, declarou Alicia.

O Encontro contou com a fala final do sociólogo Vando Nogueira que fez uma análise da conjuntura da atual relacionando-a com as questões trazidas pelos participantes durante todo o dia, sobre o esperar para do futuro a partir do lugar e da atuação de cada ator/profissional presente no evento.

 

 

Com o objetivo de gerar conhecimento a luz das ideias do Feminismo com meninas dos 12 aos 17 anos participantes do projeto “Mais Proteção, Menos Violência” (Etapas/KNH), a Etapas promove Cines Debates bimensais na Associação de Moradores da Vila 27 de Abril para cerca de 20 adolescentes do Ibura. O primeiro debate realizado em outubro gerou reflexões acerca do tema Gravidez na Adolescência, com a mostra do documentário “Meninas” de Sandra Werneck.

A estudante Mirele (16) diz que as consequências de engravidar na adolescência perpassam por largar a escola, perder a infância para “viver como um adulto só que sem maturidade”, não ter apoio do pai da criança “porque eles não vão parar de curtir a vida”.

A estudante Rose (15) diz que é importante falar sobre o tema para entender os riscos de contrair doenças sexualmente transmissíveis e poder replicar o assunto para mais meninas.

Para o educador Cristiano Ferreira, as discussões sobre gênero e sexualidade são necessárias para que mais meninas se empoderem dos seus corpos, dos seus direitos e possam enfrentar o machismo e a misógina crescentes na sociedade.

Com o objetivo de impulsionar o protagonismo de crianças e adolescentes na construção da política voltada para este segmento, o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente do Recife (COMDICA) realizou a 8ª Conferência Lúdica do Recife com o tema: Redes Sociais, Fakenews e Cyberbulying: Crianças e Adolescentes Precisam de Proteção Além das Telas. A ação faz parte do cronograma do COMDICA que articula moradores das seis Regiões Político Administrativas (RPA’s) da Cidade do Recife para subsidiar e efetivar a participação de crianças e adolescentes na 10ª Conferencia Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente do Recife que acontece em outubro.

Com oficinas de Hip-Hop, Contação de Histórias, Mídias Sociais, Fanzine, Teatro e Dança, as crianças e adolescentes puderam construir propostas voltadas para a afirmação do princípio da proteção integral de crianças e adolescentes nas políticas públicas e fortalecer as estratégias de enfrentamento às violências nas mídias digitais.

O evento teve como mestres de cerimônia Maria Joana (17) e Vitor Gabriel (17), adolescentes do projeto “Mais Proteção, Menos Violência” (Etapas/KNH), moradores do Ibura e ativistas do Fórum Social da Criança e do Adolescente do Recife.

Para o coordenador do programa de crianças e adolescentes da Etapas, Pedro Ribeiro, a conferência lúdica é importante para que as crianças e adolescentes possam expressar as angústias e os desejos e pautar a política municipal.

Projeto “Mais proteção, Menos violência” mobiliza moradores da Vila 27 de Abril e Portelinha para refletir e combater a exploração sexual (Foto: Comunicação Etapas)

Com o objetivo de convocar a sociedade a participar da luta pela prevenção e combate à violência sexual contra crianças e adolescentes, na manhã de 18 de maio – Dia Nacional de Combate à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes – meninos e meninas dos 6 aos 17 anos participantes dos projetos da Etapas no Ibura – dividiram-se em grupos e caminharam pela Vila 27 de Abril, Portelinha e Três Carneiros com entrega de panfletos e colagem de lambes nos espaços públicos das comunidades.

A iniciativa da Etapas conta com a parceria do Conselho de Moradores da Vila 27 de Abril, Associação de Moradores da Portelinha, Clube de Mães de Três Carneiros, Federação Ibura-Jordão (FIJ), PPM, ActionAid e KNH-Brasil.

As crianças e adolescentes dos projetos da Etapas também participaram do Ato no Recife organizado pela Rede de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes de Pernambuco que saiu em caminhada do Parque 13 de Maio até a Praça do Carmo.

História:

No dia 18 de maio de 1973, uma menina de 8 anos foi sequestrada, violentada e cruelmente assassinada no Espirito Santo. Seu corpo apareceu seis dias depois carbonizado e os seus agressores, jovens de classe média alta, nunca foram punidos. A data ficou instituída como o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes” a partir da aprovação da Lei Federal nº. 9.970/2000. O “Caso Araceli”, como ficou conhecido, ocorreu há quase 40 anos, mas, infelizmente, situações absurdas como essa ainda se repetem.

Denúncia:

No Brasil o “Disque 100”, criado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, é um serviço de recebimento, encaminhamento e monitoramento de denúncias de violência contra crianças e adolescentes. Funciona diariamente de 8h às 22h, inclusive aos finais de semana e feriados. Endereço eletrônico: disquedenuncia@sedh.gov.br.

Os projetos “Mudando Prática e Assegurando Direitos” – MPAD (Etapas/Comdica) e “Mais Proteção, Menos Violência” (Etapas/KNH-Alemanha) – ambos executados em comunidades do Ibura – completam três anos de atividades construindo novas práticas de diálogo e participação, envolvendo crianças, lideranças comunitárias, gestores públicos, familiares e responsáveis no enfrentamento à violência doméstica e comunitária contra crianças e adolescentes do território.

Mudando Práticas, Assegurando Direitos

Parte da turma de 20 crianças do terceiro ano do MPAD em atividade no Posto de Saúde da Família de Três Carneiros

Com a missão de fortalecer a afetividade entre crianças, familiares e comunidade, e estimular a reflexão com temas sociais que fazem parte do cotidiano, o Mudando Práticas, Assegurando Direitos, vem criando autonomia e consciência nas crianças com relação aos direitos, apoiando famílias para que estejam mais abertas para o diálogo e observando, junto ao poder público, as ações e lacunas que contribuem para a insegurança e possíveis violações de direitos das crianças e adolescentes.

“Um espaço histórico de acumulação de lixo que deixava uma rua mais escura, perigosa e suja, rua que as crianças utilizam diariamente para se locomover para escola, está sendo recuperado a partir da articulação do projeto com a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana – EMLURB e outros órgãos públicos”, exemplifica o pedagogo e coordenador do MPAD, Pedro Ribeiro.

“A comunidade de Três Carneiros está mais aberta a falar sobre violência sexual, tendo se tornado um tema que vem sendo tratado constantemente pelas famílias, que hoje conseguem identificar que seus filhos e filhas estão por muitos momentos em situação de vulnerabilidade. A alternativa de criar autonomia e consciência com relação aos seus direitos, em crianças e adolescentes, para que não se tornem presa fácil para violadores/abusadores, é vista pelas famílias de forma positiva”, relata Pedro.

Mais proteção, Menos violência

O projeto tem o objetivo de enfrentar a violência doméstica através do fortalecimento dos vínculos familiares, para que crianças e adolescentes experimentem relações humanizadas em um ambiente familiar e comunitário favorável. O trabalho direto acontece com 240 crianças e adolescente de 6 a 17 anos, e com 120 famílias das comunidades de Vila 27 de Abril e Portelinha.

Para o educador do Mais Proteção, Menos Violência, Cristiano Ferreira, os avanços com o terceiro ano do projeto são perceptíveis através de observações do progresso das crianças e adolescentes sobre o conhecimento dos direitos e deveres, na multiplicação dos conhecimentos adquiridos, assim como o cuidado entre os pares.

“Nos grupos de adolescentes percebe-se uma maior participação nos espaços de incidência, assim como a apropriação pelas questões que permeiam a sociedade.
O brincar hoje é um momento de troca e afeto e não mais de violência e individualismo, os discursos dos adolescentes homens já não são mais machistas e há uma igualdade entre os gêneros nas suas relações interpessoais”, reflete Cristiano.

Para a assistente social, Isabela Valença, o trabalho com as famílias está avançando na perspectiva do conhecimento de mães, pais e responsáveis com novas formas de educar através do diálogo. “Algumas famílias identificaram que educavam com violência. A partir das novas práticas que foram trabalhadas no projeto, alguma reafirmaram o desejo de mudar”, aponta.

A Rede De Proteção formada por Detentores de Deveres (famílias, organizações comunitárias e gestores públicos) – avança no que se refere aos encontros semestrais nos cursos promovidos pela Etapas.