Por Cristiano Ferreira (Educador Social – Etapas)

Estamos no Maio Laranja. Ainda hoje se faz importante e necessário trabalhos de sensibilização e enfrentamento a exploração e ao abuso de crianças e adolescentes, mesmo trinta e três anos depois da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ainda hoje vemos estas populações se tornarem vítimas desses tipos de violências, assim como é perceptível, que tais violências estão intimamente ligadas as outras violações de direitos: como o não acesso a uma saúde pública de qualidade, o não acesso a uma educação pública de qualidade, a falta de saneamento básico, e as questões ambientais. Crianças e adolescentes ainda vivem as dificuldades de serem acompanhadas pelas unidades básicas de saúde. Assim como ainda há crianças e adolescentes fora da escola, vivendo em comunidades sem acesso a saneamento básico e em locais com moradias desordenadas, o que colabora com a violência sexual.

Para que crianças e adolescentes tenham um desenvolvimento pleno, livre de violências, os adultos ao redor precisam estar atentos, pois eles e elas podem ser vítimas nos diferentes espaços em que estão inseridos.

No nosso projeto “Nenhum Direito a Menos, Mas Todos os Direitos” (Etapas/KNH Alemanha), as crianças e adolescentes têm a oportunidade de falar sobre seus medos e anseios diante de uma sociedade que ainda as enxerga como um ser sem voz. Neste sentido, o nosso trabalho enquanto sujeitos garantidores desses direitos, é fazer com que eles e elas possam conhecer seus direitos, exercer a sua cidadania e assim poder usar as suas vozes para denunciar possíveis situações de abuso e até mesmo exploração.

Uma de nossas importantes ferramentas no âmbito do projeto é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA-1990). Um importante instrumento, que não só esse público deve conhecer, mas os adultos de suas casas e demais pessoas que tenham contato com crianças e adolescentes na intenção de ser detentores de deveres.

O dia 18 de maio é um dia simbólico para as organizações da sociedade civil, movimentos sociais, escolas, as delegacias de crianças e adolescentes e os conselhos tutelares. Toda a sociedade deve parar e prestar atenção para que possamos construir, daqui para frente, um mundo onde crianças e adolescentes possam se sentir ouvidos, plenamente seguros e com isso poder vivenciar as suas infâncias e adolescências com qualidade.

O nosso trabalho não pode parar, pois ele é um espaço necessário de diálogo, acolhimento e afeto para este público.

Os projetos “Mudando Prática e Assegurando Direitos” – MPAD (Etapas/Comdica) e “Mais Proteção, Menos Violência” (Etapas/KNH-Alemanha) – ambos executados em comunidades do Ibura – completam três anos de atividades construindo novas práticas de diálogo e participação, envolvendo crianças, lideranças comunitárias, gestores públicos, familiares e responsáveis no enfrentamento à violência doméstica e comunitária contra crianças e adolescentes do território.

Mudando Práticas, Assegurando Direitos

Parte da turma de 20 crianças do terceiro ano do MPAD em atividade no Posto de Saúde da Família de Três Carneiros

Com a missão de fortalecer a afetividade entre crianças, familiares e comunidade, e estimular a reflexão com temas sociais que fazem parte do cotidiano, o Mudando Práticas, Assegurando Direitos, vem criando autonomia e consciência nas crianças com relação aos direitos, apoiando famílias para que estejam mais abertas para o diálogo e observando, junto ao poder público, as ações e lacunas que contribuem para a insegurança e possíveis violações de direitos das crianças e adolescentes.

“Um espaço histórico de acumulação de lixo que deixava uma rua mais escura, perigosa e suja, rua que as crianças utilizam diariamente para se locomover para escola, está sendo recuperado a partir da articulação do projeto com a Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana – EMLURB e outros órgãos públicos”, exemplifica o pedagogo e coordenador do MPAD, Pedro Ribeiro.

“A comunidade de Três Carneiros está mais aberta a falar sobre violência sexual, tendo se tornado um tema que vem sendo tratado constantemente pelas famílias, que hoje conseguem identificar que seus filhos e filhas estão por muitos momentos em situação de vulnerabilidade. A alternativa de criar autonomia e consciência com relação aos seus direitos, em crianças e adolescentes, para que não se tornem presa fácil para violadores/abusadores, é vista pelas famílias de forma positiva”, relata Pedro.

Mais proteção, Menos violência

O projeto tem o objetivo de enfrentar a violência doméstica através do fortalecimento dos vínculos familiares, para que crianças e adolescentes experimentem relações humanizadas em um ambiente familiar e comunitário favorável. O trabalho direto acontece com 240 crianças e adolescente de 6 a 17 anos, e com 120 famílias das comunidades de Vila 27 de Abril e Portelinha.

Para o educador do Mais Proteção, Menos Violência, Cristiano Ferreira, os avanços com o terceiro ano do projeto são perceptíveis através de observações do progresso das crianças e adolescentes sobre o conhecimento dos direitos e deveres, na multiplicação dos conhecimentos adquiridos, assim como o cuidado entre os pares.

“Nos grupos de adolescentes percebe-se uma maior participação nos espaços de incidência, assim como a apropriação pelas questões que permeiam a sociedade.
O brincar hoje é um momento de troca e afeto e não mais de violência e individualismo, os discursos dos adolescentes homens já não são mais machistas e há uma igualdade entre os gêneros nas suas relações interpessoais”, reflete Cristiano.

Para a assistente social, Isabela Valença, o trabalho com as famílias está avançando na perspectiva do conhecimento de mães, pais e responsáveis com novas formas de educar através do diálogo. “Algumas famílias identificaram que educavam com violência. A partir das novas práticas que foram trabalhadas no projeto, alguma reafirmaram o desejo de mudar”, aponta.

A Rede De Proteção formada por Detentores de Deveres (famílias, organizações comunitárias e gestores públicos) – avança no que se refere aos encontros semestrais nos cursos promovidos pela Etapas.