Economia do Cuidado é tema da 8ª edição do Encontro para Detentores de Deveres
Gestores públicos da saúde,educação, assistência, representantes de organizações da sociedade civil, na 8ª edição do Encontro para Detentores de Deveres, no Hotel Manibú (Boa Viagem) / Foto: Comunicação Etapas
“Cuidado é necessidade”, afirma a professora Rachel Uchôa. Segundo pesquisa do IBGE/2023, a diferença de tempo de trabalho entre homens e mulheres se mostra nos serviços domésticos/comunitários (cozinhar, limpar, lavar, estender, passar, cuidar da rotina dos filhos, cuidar de idosos, de pessoas com deficiência), onde mulheres trabalham 11 horas a mais por semana do que os homens. Este tempo dedicado aos cuidados com a administração do lar e cuidados com a família, se tornou um debate sobre a garantia de direitos tanto para os que necessitam de cuidados quanto para os cuidadores (com ou sem remuneração).
Cuidado: trabalho essencial para a sustentabilidade da vida humana, da economia e da sociedade
A partir da estruturação da Secretaria Nacional da Política de Cuidados e Família no Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (SNCF/MDS) e a Secretaria Nacional de Autonomia Econômica e Políticas de Cuidados no Ministério das Mulheres (SENAEC/MMulheres), em 2023, foi lançado o Marco Conceitual da Política Nacional de Cuidados a partir das discussões em grupos de trabalhos coordenados por estas secretarias.
A Política Nacional de Cuidados foi aprovada no senado, em 5/12/24.
O Brasil vai construir um Plano Nacional de Cuidados, que prevê a garantia de direitos tanto para os que necessitam de cuidados quanto para os cuidadores (com ou sem remuneração).
A incorporação inédita de estruturas específicas para tratar do tema dos cuidados na administração pública federal é um avanço importante para garantir o direito ao cuidado a todas as pessoas que dele necessitem, para promover o trabalho decente para todas as trabalhadoras e trabalhadores remunerados do cuidado e, ainda, para reconhecer, reduzir e redistribuir o trabalho doméstico e de cuidados não remunerado, exercido historicamente pelas mulheres nos domicílios.
Quem Cuida de Quem Cuida?, a oitava edição do Encontro Para Detentores de Deveres (Etapas/KNH) promoveu o debate entre gestores públicos da saúde, educação, assistência social, lideranças comunitárias, organizações da sociedade civil que atuam no Ibura. O evento cumpriu com o objetivo de sensibilizar, debater e fomentar uma cultura de cuidado entre os participantes.
As facilitadoras Renata Farias (Psicóloga) e Rachel Uchôa (Professora UFRPE) trouxeram reflexões acerca do mapeamento de como as pessoas entendem o que é cuidado, assim como favoreceu a pensar em soluções de como a política pode chegar onde a população mais vulnerável está.
Para a agente de saúde de Monte Verde (Ibura), Miriam Florenço, ela leva de aprendizado a certeza que o país está mudando, pois para ela, estamos viabilizando o trabalho invisível das mulheres. “Levo para o meu trabalho o conhecimento ampliado e a intenção clara de partilhar o que aprendi,” conclui.
Veja galeria de fotos da 8ª Edição do Encontro Para Detentores de Deveres
Artigo: Racismo Ambiental na vida das mulheres. Etapas na discussão e construção de políticas públicas em Meio ambiente e Saúde Mental
Foto: Arquivo Etapas (Ibura / Maio 2022)
Em 2024, completaram-se quatro anos desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o estado de pandemia de Covid-19. Neste contexto de crise, que não é só sanitária, mas social, econômica, ambiental e política, a região do Ibura e Jordão vem experimentando momentos desafiadores para a dinâmica do território, como a vivência do luto pelas vítimas da Covid 19, bem como dos deslizamentos de barreiras registrados em maio de 2022, sendo o território do Ibura o mais atingido do Estado de Pernambuco, contabilizando o resultado desolador de 87 mortes. Muitas pessoas perderam suas fontes de renda e ainda estão passando por dificuldades financeiras, o que torna possível a percepção do aumento da miséria e da fome (segundo dados da PNAD 2022, 52,7% da população recifense encontra-se abaixo da linha da pobreza) e dos impactos devastadores na saúde mental das crianças, adolescentes e sobretudo das mulheres.
Considerando o projeto do Orçamento de 2024 apresentado pelo Governo Federal, percebe-se crescimento em quase todas as áreas sociais. De acordo com levantamento do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que analisou oito segmentos: educação; meio ambiente e clima; indígenas; quilombolas; mulheres; crianças e adolescentes; habitação e cidades; e energia, conclui-se que as áreas de igualdade social e de habitação voltarão a receber recursos após quatro anos sem orçamento do governo federal. Mesmo com o aumento em programas sociais, o Inesc considera o avanço menor que o ideal, diante do retrocesso em políticas públicas no governo anterior. “Apesar do acréscimo em quase todas as áreas da agenda de atuação do instituto, a organização alerta que os valores ainda são insuficientes para resolver o enorme déficit social vivido no país após o desmonte de políticas públicas nos quatro anos do governo Bolsonaro”, destaca o relatório.
Historicamente, no Brasil, as populações negras e indígenas, em especial as mulheres, são as mais afetadas pelas mudanças climáticas. São elas que há séculos denunciam o racismo ambiental que sofrem em seus territórios: falta de saneamento básico, água, coleta de lixo, desapropriação, deslizamentos de barreiras, violências de todos os tipos. São elas também que desenvolvem uma série de tecnologias sociais e ancestrais para construir soluções comunitárias. No entanto, na hora da formulação de políticas públicas para a área climática, essas vozes não são escutadas.
Portanto, para 2024, na ETAPAS, vimos a necessidade de não apenas popularizar o debate da questão ambiental nas periferias e no meio urbano, como em 2023, quando oportunizamos a participação de adolescentes e jovens em espaços de formação e discussão sobre o clima e seus impactos na sociedade, fomentando a compreensão de que quando se fala em situações de calamidades, não se trata de “desastres naturais”, eventos isolados, inesperados, casuais, descolados da sociabilidade burguesa, mas também pretende-se planejar e estruturar ações, diante das mudanças climáticas, encontrando formas de ampliar a capacidade de apoiar na mitigação das desigualdades sociais e acolher as questões das diversidades, com equidade e inclusão.
PARTICIPAÇÃO DA ETAPAS EM ESPAÇOS DE DISCUSSÃO E CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DO MEIO AMBIENTE E DE SAÚDE MENTAL EM 2023
Articulação Recife de Luta:
Realizou-se no dia 23/05, na sede da ONG Habitat para Humanidade e contou com a presença de representantes de ONGs e movimentos sociais. Uma reunião para retomar as articulações entre as organizações e os movimentos que compõem a Articulação Recife de Luta. Teve como pauta: a) eleição de uma nova coordenação; b) organização do ato alusivo a um ano das fortes chuvas no Recife; c) discussão da importância das áreas de exclusão social/periféricas serem apoiadas pelo projeto PROMORAR, com investimentos na ordem de R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais) a serem investidos em áreas afetadas pelas chuvas ou que correm riscos de desabamentos.
Formação para jovens mobilizadores do SVS:
No dia 15/04, na sede da FIJ (UR-01 – Ibura), aconteceu o primeiro Encontro Formativo, com o tema do Racismo ambiental e mudanças climáticas nos territórios comunitários e região metropolitana do Recife e sua relação com a coletividade, apontando mecanismos viáveis para a solução do Racismo Ambiental, realizado em parceria com o Greenpeace Recife. (23 participantes)
Seminário “Desafios para uma Vida Digna no Ibura e Jordão – Participação e Controle Social”:
O seminário foi realizado com o objetivo de dialogar junto com gestores públicos, acerca do Projeto PROMORAR, que será desenvolvido no Ibura, com investimentos em infraestrutura, contenção de encostas e um conjunto de ações, como forma de prevenir os desastres ambientais no Ibura. Também foi objetivo do seminário, conhecer outros projetos de impacto que serão desenvolvidos no Ibura pela gestão municipal e sobretudo propor que haja um espaço de monitoramento e participação social durante o planejamento e execução das ações. Compareceram ao seminário o presidente da empresa de obras do Recife, representante da secretaria de segurança cidadã e representante da Companhia de Trânsito e Transportes Urbanos. Na ocasião os/as participantes apresentaram diversas demandas de ações e políticas públicas para o território. O representante da secretaria de serviços públicos apresentou as ações do COMPAZ Ibura, equipamento que está sendo construído no território com diversas ações voltadas para a prevenção a violência. O presidente da URB apresentou os projetos a serem desenvolvidos no território, assim como o gestor de mobilidade. No entanto a maior expectativa que era o debate sobre o PROMORAR não ocorreu de forma detalhada em virtude de o representante da prefeitura não ter comparecido. Seminário realizado no dia 05/08/2023 (das 8:30 as 13:30), na Escola Municipal Carlúcio de Souza Castanha Junior (Ibura) – (84 participantes)
Oficina de Letramento Climático Para Moradores de Áreas de Risco:
Realizada pelo Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, no dia 21/11/2023, a formação teve o objetivo de apresentar ao público conceitos e exemplos dos sistemas atmosféricos, regime de chuvas e outros fatores que interferem na dinâmica do clima em Recife e Jaboatão dos Guararapes. Além disso, foram abordados mecanismos de monitoramento e prevenção dos impactos dos fenômenos climáticos nas comunidades. Teve ainda como proposta pensar esses fatores, considerando questões como Racismo ambiental e climático, vulnerabilidade social e resiliência comunitária. (01 participante)
Conferência Local da Juventude (LCOY):
Realizada em Recife, nos dias 27, 28 e 29 de outubro e teve como objetivo central ampliar a voz da juventude nas pautas associadas ao clima e ao futuro, incentivando o protagonismo juvenil para uma transição justa e sustentável. Durante os dias de conferência, a Declaração da Juventude Brasileira foi construída coletivamente. Um documento que reúne os principais desafios e proposições das diferentes juventudes do Brasil e que foi apresentado em ambientes internacionais de tomada de decisão, como a Conferência Internacional da Juventude (COY) e Conferência das Partes (COP) em Dubai no mês de novembro. Organizada por uma coalizão formada pelas seguintes organizações jovens: SDSN Jovem Amazônia, CONJUCLI SP, Engajamundo, Global Shapers RJ, HESAC e Saúde em Clima, foi selecionada pela YOUNGO, a constituinte jovem da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) para organizar a 3ª Edição da LCOY Brasil.(02 participantes)
5ª Conferência Nacional de Saúde Mental (CNSM) Domingos Sávio:
Foi realizada de 11 a 14 de dezembro, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), em Brasília (DF).Organizada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e promovida pelo Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas do Ministério da Saúde (Desme), a conferência reuniu cerca de duas mil pessoas para discutir, aprovar e deliberar propostas para a formulação da Política Nacional de Saúde Mental e o fortalecimento dos programas e ações de saúde mental em todo o território nacional. Ou seja, coube a esta conferência temática de saúde versar sobre suas respectivas políticas públicas, num foco propositivo de monitoramento e avaliação de sua implementação. Além do tema “A política de Saúde Mental como Direito: pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e garantia dos serviços de atenção psicossocial no SUS”, a 5ª CNSM teve como eixo principal “Fortalecer e garantir Políticas Públicas: o SUS, o cuidado de saúde mental em liberdade e o respeito aos Direitos Humanos”, subdividido em quatro eixos: I – Cuidado em liberdade como garantia de Direito a cidadania; II – Gestão, financiamento, formação e participação social na garantia de serviços de saúde mental; III – Política de saúde mental e os princípios do SUS: Universalidade, Integralidade e Equidade; IV – Impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e pós-pandemia. (01 participante)
Conferência Livre Pode Falar! | Conferência Nacional de Saúde Mental das Adolescências e das Juventudes:
Realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância em parceria com a Rede Pode Falar. A Conferência foi realizada no dia 28 de setembro de 2023, em formato híbrido: Presencialmente das 08h às 13h e online das 13h às 15h30min. Com o objetivo de pensar, organizar e indicar propostas para a 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental – CNSM (15 participantes)
5ª Conferência Municipal da Juventude:
Com o objetivo de fortalecer as políticas públicas de juventude e aperfeiçoar o Plano Municipal de Juventude de forma coletiva, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria Executiva de Juventude (Sejuv) realizou a 5ª Conferência Municipal de Juventude do Recife, nos dias 05 e 06/08/2023, no Colégio Vera Cruz – área central do Recife. Os jovens delegados realizaram as discussões nos grupos de trabalho para eleger propostas nas áreas de Cidadania e Participação Social/Diversidade e Igualdade, Desporto e Lazer/ Cultura, Saúde, Território e Mobilidade/Sustentabilidade e Meio Ambiente, Educação, Segurança Pública e Acesso à Justiça, Comunicação e Liberdade de Expressão/Profissionalização, Trabalho e Renda. (02 participantes)
Formação da Equipe Técnica em meio ambiente:
A capacitação consistiu na apresentação da temática envolvendo as diversas questões ambientais, na perspectiva dos aprendizados, inovações e soluções. Para tal abordagem utilizou-se do encadeamento lógico de conceitos pertinentes ao tema como os tópicos:
1) O que é a questão ambiental: no Brasil e no Mundo; 2) Quais as principais legislações ambientais, 3) Principais desafios na Região Metropolitana do Recife: elencando a problemática das chuvas e da falta de políticas públicas específicas do poder público, mediante a um abandono proposital de determinadas áreas. No mais, interligando a pauta de 4) Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como soluções pertinentes para o enfrentamento da problemática na sociedade. Assim, a metodologia escolhida foi a de uma capacitação interativa, visto que colocou os participantes a refletir em viés crítico, desenvolvendo um espaço de reflexão e ação, articulando com o seu cotidiano e possibilitando contextualizar sua realidade, problematizando e buscando soluções.
Seminário Etapas 40 anos: Construindo Direitos Na Cidade Que Queremos
O evento lotou o auditório do Hotel Jangadeiro (Boa Viagem), com mais de 150 pessoas entre gestores públicos, lideranças comunitárias, estudantes, pesquisadores, organizações da sociedade civil, parceiros e parceiras de longas datas da Etapas. Foi um dia histórico, assim como a luta da Etapas pelo direito à cidade no Recife.
Auditório do Hotel Jangadeiro lotado com resistências, lutas e afetos (Foto: Edinho Moraes – TV Viva)
Etapas comemora 40 anos de trabalho nas comunidades do Recife, na luta por direitos e conquistas de políticas públicas! Para celebrar e debater os temas dos programas e projetos da Instituição, foi realizado no último dia 19 de abril, no Hotel Jangadeiro (Boa Viagem), o Seminário Etapas 40 anos – Construindo Direitos Na Cidade Que Queremos, com debates sobre as realidades, desafios e potencialidades para o trabalho com crianças e adolescente, os desafios e demandas das juventudes de Pernambuco, a comunicação e a cultura como ferramentas na consolidação da democracia, e a luta para viver na cidade que queremos.
O Seminário lotou o auditório do Hotel Jangadeiro (Boa Viagem), com mais de 150 pessoas entre gestores públicos, lideranças comunitárias, estudantes, pesquisadores, organizações da sociedade civil, parceiros e parceiras de longas datas da Etapas. A programação contemplou um dia inteiro de atividades, de 8h Às 19h, com café da manhã, debates, reflexões, aprendizados, almoço, confraternização e afetos.
A abertura do seminário foi realizada pelo Afoxé Omô Nilê Ogunjá (grupo do Ibura), com muita cultura, música e dança afro.
Em seguida, a Equipe Etapas se apresentou e foi aplaudida. A Equipe 2023 é composta por Isabela Valença, Neide Silva, Vaneide Lima, Cristiano Ferreira, Juliana Ribeiro, Léia Souza, Suzana Santos, Renata Farias, Malene Muniz, Maria Paula Campelo, Denise Ernesto, , Aline Viana, Henrique Rafael, Lourdes Galvão, Josiane Ventura.
Equipe Etapas 2023 (Foto: Edinho Moraes/TV Viva)Conselho diretor, Federação Ibura-Jordão e Unicef Brasil fazem saudações à Etapas
Alguns representantes do conselho diretor da Etapas, assim como as organizações parceiras Federação Ibura-Jordão (FIJ) e Unicef Brasil foram convidadas a fazer uma saudação para Etapas.
A primeira mesa de debates foi composta por Eduardo Paysan (Advogado – Especialista em Direitos Humanos, Mestre em Serviço Social), Alícia Patrícia e Gabriel Silva (Estudates e participantes do projeto “Nenhum Direito a Menos, Mas Todos os Direitos” – Etapas/KNH). Os adolescentes trouxeram experiências da realidade vivida no território do Ibura e o advogado falou da militância e na luta pelo direito de crianças e adolescentes.
O sociólogo e professor da Universidade do Vale do Rio São Francisco, Marcílio Brandão, e o coordenador da Região Metropolitana do Fórum de Juventudes de Pernambuco (FOJUPE), Daniel Santos, trouxeram as experiências na militância da luta pelo direito das juventudes na segunda mesa de debates.
A terceira mesa foi composta por Yane Mendes – (Cineasta Periférica e Coordenadora da Rede Tumulto) e Catarina de Angola (Idealizadora e Diretora Executiva da Angola Comunicação) que trouxeram contribiições a partir da luta pelo direito à comunicação e da comunicação nas favelas.
A quarta e última mesa foi composta por Avanildo Duque (Ativista da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação) e Sarah Marques (Cofundadora do Coletivo Caranguejo Tabaiares e Educadora Popular) que contribuíram com reflexões a partir da militância pelo direito à cidade.
Foi um dia histórico, assim como a luta da Etapas pelo Direito à Cidade no Recife.
Na ocasião houve o lançamento do vídeo Etapas 40 anos com relatos das pessoas que já passaram ou estão nos projetos da Etapas.
Meninas em Movimento: Rede de proteção a mulheres e crianças passa por criação de comitês locais
Texto: Aline Vieira Costa
Fotos: Ivan Melo
Como fazer com que a violência não chegue a crianças e adolescentes? O que fazer para
que elas tenham mais recursos e para que possamos melhor lidar com o que já ocorre?
Que alternativas podemos pensar em termos preventivos? Essas são apenas algumas das
perguntas a serem debatidas pelos integrantes dos comitês que estão sendo formados nos
territórios contemplados pelo projeto Meninas em Movimento, realizado pela ActionAid em
parceria com as organizações Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro das Mulheres do
Cabo (CMC) e Etapas, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, por meio do
Programa Petrobras Socioambiental.
Os comitês estão previstos na governança do projeto e têm como objetivo discutir
problemas e soluções locais. Eles são também cruciais para o fortalecimento da rede de
proteção a crianças e adolescentes contra situações de abuso e violência sexual. Quatro
comitês estão em construção: um no Ibura, no Recife; um em Passarinho, também na
capital pernambucana; um no Cabo de Santo Agostinho, que abrange os quatro territórios
do município que fazem parte do projeto — Gaibu, Engenho Massangana, Nova Vila
Claudete e Vila Suape; e um em Vila Califórnia, Ipojuca. Cada comitê terá encontros
bimestrais, durante um ano e meio, e é formado por representantes das comunidades, do
poder público e das redes locais de enfrentamento à violência. As conversas são
desenvolvidas de modo que todos possam interagir, expor as realidades e propor soluções
em conjunto.
A ideia é aquecer o ecossistema de práticas de prevenção, de acordo com a especialista
em Monitoramento e Projetos da ActionAid, Tricia Calmon, que coordena o projeto. Mas
para o sucesso de uma rede que protege crianças e adolescentes é crucial que se tenha
uma aproximação com a realidade dos territórios.
“Sabemos que é um tema muito sensível. Os profissionais do campo precisam dialogar
sobre o assunto, envolver a comunidade e as famílias, para que os comitês sejam espaços
de conversa sobre a temática”, explica Tricia.
A especialista comenta que a rede atual de cada território nem sempre tem a capacidade de
acompanhar e viabilizar soluções para o problema da violência. Por isso o desejo de se
pensar em alternativas mais responsivas e de promover essa mobilização através do
comitê, que conta com a participação de representantes de equipamentos públicos e da
sociedade civil — desde lideranças, associações de bairro, conselho tutelar até a rede
informal e todos os interessados em atuarem em seus territórios.
“A gente espera colaborar para fomentar uma rede de proteção organizada, mas o desafio é
muito grande, e precisamos pensar em uma série de saídas diversificadas. O importante é
tirar o assunto do silêncio, pois isso não ajuda a diminuir o número de casos”, avalia Tricia.
O projeto se dispõe a trabalhar pela garantia de direitos conquistados em um árduo
processo histórico no Brasil, como enfatiza a assistente social Itanacy Oliveira, que é
diretora do Programa Mulher Trabalho e Vida Urbana da Casa da Mulher do Nordeste, que
atua em Passarinho. É um convite a afirmar essas conquistas e fortalecer o exercício delas.
No território de Passarinho, as atividades iniciaram-se em fevereiro, com a formação do
grupo.
“O primeiro encontro foi um marco, no qual fizemos a divulgação da iniciativa para o coletivo
que nos acompanha, o Grupo Espaço Mulher. Mostramos o que é o projeto, os benefícios
dele, mas, principalmente, a importância do trabalho com a juventude e do cuidado com as
mulheres”, conta Itanacy.
A diarista Evandra Dantas da Silva, uma das fundadoras do Grupo Espaço Mulher,
existente há 22 anos, tem a expectativa de que o comitê corra atrás de soluções para o
território, principalmente no que diz respeito à educação.
“Muitas crianças aqui vão estudar fora da comunidade, por não haver escolas suficientes. E
não há área de lazer. Meninos pedem o que fazer, e meninas que vimos pequeninas, agora
vemos grávidas”, relata.
Falta de segurança é outro problema recorrente, segundo a líder comunitária do
Habitacional Miguel Arraes, Nathália Viana.
“Quero que esse comitê aconteça e que pessoas de fora estejam mais presentes aqui
dentro, participem com a gente, apoiem, cobrem”, assinalou Nathália, que é mulher trans e
trabalha como cuidadora de idosos.
Para Itanacy, o comitê é um espaço de diálogo importante para a garantia de um processo
democrático de gestão e também para acompanhar a atuação do projeto Meninas em
Movimento. Será essencial para conduzir os ajustes, apontar melhorias e estimular a
participação da comunidade. “É uma escuta para além das organizações e da própria
ActionAid, que é a executora do projeto, e isso abre um espaço de diálogo democrático, que
é o que a gente mais precisa hoje no Brasil”, examina.
Saiba mais sobre projeto Meninas em Movimento:
www.actionaid.org.br/meninasemmovimento
Mulheres em foco na Feira de Serviços Comunitários do Ibura
Facilitar o acesso da população socialmente excluída aos serviços públicos de saúde e promover atividades lúdicas e educativas para crianças e famílias residentes no Ibura, são os objetivos das Feiras de Serviços Comunitários que acontecem periodicamente – há 10 anos – através da articulação Etapas, ActionAid e Federação Ibura e Jordão – em 11 comunidades do território.
Nos dias 13, 20 e 24 de maio, em homenagem ao mês das mães, as atividades realizadas em Três Carneiros, Pantanal e UR-12 buscaram favorecer a participação e o empoderamento de mulheres das comunidades.
Com a junção da solidariedade de gestores públicos, comerciantes locais, lideranças comunitárias e voluntários, a Feira de Serviços pôde oferecer exames de mamografia, teste de HIV, sífilis, hepatite B, aferição de pressão e glicose, tratamentos estéticos (com corte de cabelo e escova), Roda de Diálogo sobre Geração de Renda e Organização Financeira e Oficina de Empreendedorismo, com produção de sabão através da reutilização do óleo de cozinha e produção de bolsas com tinta óleo.
No espaço criança, além de brincadeiras na cama elástica e piscina de bolas, as crianças e adolescentes puderam confeccionar os próprios presentes para o Dia das Mães, na Oficina de Produção de Objetos com Material Reciclável. As crianças também receberam Oficinas de Dança, Teatro e Artes Circenses.
A drag queen Elvira Terremoto garantiu a diversão de adultos e crianças com gincanas, quiz e distribuição de kits para as 200 mães em Três Carneiros.
Apoios:
Escola Municipal Severina Bernadete; Distrito Sanitário VIII; Instituto Embeleze; Associação de Moradores do Pantanal; Escola José Múcio Monteiro; Centro Cultura da UR-10; Clube de Mães de Três Carneiros; União de Moradores de Três Carneiros; Associação de Moradores da UR-12
Seminário Mulheres e Direitos: do acesso à cidade as ameaças do golpe
Com a perspectiva de dar continuidade as discussões de gênero nos espaços de participação no território do Ibura, a Etapas e Federação Ibura e Jordão (FIJ) realizaram, na Escola Estadual Carlúcio Castanha (UR-1), o Seminário: Mulheres e Direitos: um debate sobre as experiências de mulheres no uso da cidade e das ameaças provenientes da reforma trabalhista e da previdência em trânsito no Congresso Nacional.
A mesa debatedora – composta por técnicos de organizações da sociedade civil, gestores públicos e lideranças comunitárias – discutiu dados e características das violências urbana, doméstica, institucional e psicológica sofridas por mulheres, os desafios orçamentários para manter os serviços necessários à população em um ambiente de crise e o distanciamento das sedes dos órgãos públicos da população periférica.
Mesa debatedora do Seminário: Mulheres e Direitos na Escola Estadual Carlúcio Castanha (Foto: Comunicação Etapas)
No debate sobre as diferenças entre como mulheres e homens usufruem a cidade, a técnica da ActionAid, Ana Paula, em sua fala, analisa que as mulheres têm menos direitos do que os homens. Para ela, “mesmo que os direitos sejam iguais”, as mulheres sofrem mais agressões e vivem a falta e a precariedade dos serviços públicos.
A representante do Conselho Municipal da Mulher, Ana Cláudia, destacou a opressão que as mulheres sofrem nos lares, nas instituições onde trabalham e nos serviços públicos.
A representante da secretaria estadual da mulher, Bianca Rocha, trouxe em sua fala os índices de violência contra mulheres em Pernambuco. Segundo ela, os casos de envolvimento com o tráfico e as agressões cometidas pelo parceiro dentro de casa são as situações que mais acometem a população feminina do estado.
Segundo Bianca, dentre as ações de proteção e enfrentamento do estado estão o funcionamento de 10 delegacias da mulher, 10 varas contra a violência e 37 centros especializados, com assistência jurídica, psicológica e social para as mulheres vítimas de violência.
O representante da Defensoria Pública da União em Recife, Pedro de Paula, destacou a importância do evento para a aproximação da assessoria jurídica pública das pessoas que mais necessitam. Ele reconhece que a falta de informações sobre o que fazem e para quem se destinam os órgãos de proteção dificulta o acesso da população.
¹A DPU atua na assistência jurídica para a saúde com obtenção de medicamentos, tratamentos e cirurgias. Contra o INSS, para benefícios, aposentadorias e pensões. Com a Caixa Econômica Federal, em problemas com os diversos tipos de financiamentos como o Minha Casa, Minha Vida e Financiamento Estudantil (FIES). Entre outros tipos de ações na Justiça Federal. Toda a atuação da DPU é gratuita.
O seminário foi encerrado com encaminhamentos para mais dois encontros. Um para aprofundar questões sobre as responsabilidades governamentais relacionadas aos direitos da mulher e outro para esclarecer perguntas sobre os direitos e benefício da assessoria jurídica pública.