Juventudes de Pernambuco planejam ações de incidência política em 2018

Por ONG ETAPAS | Postado em , atualizado em: 19/04/2018, 19:21


Avanço do conservadorismo; fundamentalismo religioso; a incidência do HIV/AIDS influenciando no aumento da morte entre jovens; aumento da exploração sexual de adolescentes com a chegada das obras de infraestrutura; falta de políticas para juventudes do campo; desafios de manter a juventude organizada e empoderada; importância de pautar a luta das juventudes indígenas que sofrem com imposição de um fenótipo que não é necessariamente dos indígenas do Norte; as consequências do Porto de Suape, e outras obras que chegam deslocando comunidades na zona da mata, foram temas debatidos no Encontro Anual do Fórum de Juventudes de Pernambuco (FOJUPE) – que aconteceu de 23 a 25 de março, em Caruaru e reuniu jovens feministas, indígenas, estudantes, quilombolas, gays, travestis, negras(os), lésbicas, camponesas(es), antiproibicionistas se reuniram para planejar incidência política no estado de Pernambuco.

Como metodologia do FOJUPE, a mesa de debates escolhida pelos jovens foi formada pelo educador e coordenadordo Centro Sabiá, Alexandre Pires, pela educadora e ativista da Rede de Mulheres Negras, Mônica Oliveira (FASE-PE), e pela assessora do programa de Direito das Mulheres da ActionAid, Jessica Barbosa.

As negociações para privatizar o Aquífero Guarani (segunda maior reserva de água doce do mundo que se estende pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) foram trazidas por Alexandre, que ressalta ser “mais um dos retrocessos do governo Temer” – a discussão com transnacionais, como a Coca-Cola e a Nestlé para mudar a legislação e garantir aos conglomerados o direito exclusivo ao aquífero e à venda da água. “O vale do São Francisco em 2015, depois de seis anos de seca, aumentou em 50% a produção de frutas para exportação, enquanto comunidades que estão a 5km do São Francisco não têm uma gota de água. Estamos falando de um processo mais amplo, de retirada de direitos fundamentais”, alerta.

Para Mônica Oliveira, o contexto político do Brasil é de democracia impedida. “Precisamos localizar essa defesa da democracia no local onde estamos, porque a repressão avança nas ruas, nas redes sociais, inúmeros sujeitos políticos passam a expressar de maneira mais explicita seus machismos, racismos, lgbtfobia, o que tem fortalecido as violências”, abrange. O aumento de números de estupros, de assassinatos de mulheres transexuais, o extermínio da juventude negra, a política de drogas que acirra a violência, elimina ou encarcera os pobres e especialmente os/as jovens negros. A velocidade do desmonte de políticas como redução do bolsa família e revisão da política de cotas, também foram trazidas por Mônica.

“Essa quebra das políticas estudantis também são muito sérias, pois são elas que garantem a permanência dos estudantes de baixa renda nas universidade. O tempo todo a gente ouve que é a juventude negra é a mais atingida com o desemprego e perda dos direitos trabalhistas, isto é porque já somos maioria no mercado informal e isso vai ficar pior com aumento do subemprego.  O país tá sendo vendido aceleradamente! Vendeu o pré sal e agora a água e o petróleo. E isso não é uma questão do rural, mas de todo mundo. Por outro lado nosso nome é resistência”, avalia.

As explanações de Jessica trouxeram à tona o projeto de dominação da política de direita no Brasil. “Antes o que ‘pegava’ era falar da corrupção, agora o inimigo é a violência, a direita está colando no discurso de Bolsonaro, e já existe um inimigo público que é a política de drogas. Se tivermos eleições (porque há uma ideia de que o Rio de Janeiro é um laboratório para uma intervenção em todo Brasil), é muito louco que Bolsonaro esteja crescendo em cima da juventude”, analisa.

Para Jessica, alguns dos desafios deste ano eleitoral são: Construir plataformas comuns a partir do lugar que queremos chegar. “Essa diversidade talvez seja uma das grandes riquezas do Fojupe”, Voltar para as bases/territórios e trazer as juventudes para esse projeto antirracista, anticapitalista e consolidar nossa autonomia.

As três grandes ações do FOJUPE planejadas para 2018 são: a incidência política nas ruas do Recife com o segundo ano do Ato “Agosto das Juventudes“, a contribuição no Encontro Nacional de Agroecologia (em Belo Horizonte) e ampliação da divulgação da lei federal 12.852/2013 do Estatuto da Juventude com a Campanha “Jovens Pelo Direito de Viver” nos territórios de Pernambuco e mídias digitais.

 

 

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